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  • Foto do escritorCadu Lemos

#13/Flow Infinito: A Hipótese da Conexão Universal

Atualizado: 3 de abr.





Desde os primórdios da humanidade, os filósofos, sábios e pensadores têm tentado decifrar a natureza da existência humana e do universo que nos cerca. 

Entre as muitas teorias e conjecturas, uma ideia fascinante emerge: a hipótese de que estamos constantemente imersos em um estado de flow ou fluidez, interligados ao cosmos de maneiras que transcendem nossa compreensão convencional. 


Esta hipótese desafia a noção comum de que somos seres separados, limitados à nossa mente e corpo, e propõe que a inquietação e a intermitência dos pensamentos são meramente véus que obscurecem nossa verdadeira natureza.


O Estado de Flow: Uma Jornada Constante


Para entender essa hipótese que aqui apresento pela primeira vez (quem acompanha sabe que o estado de flow é meu principal tema abordado em textos, cursos, workshops e vivências há alguns anos) é crucial compreender o conceito de "flow". 


Estudado e tornado mais conhecido nos anos 70 por Mihaly Csikszentmihalyi (PhD em Psicologia Universidade de Chicago), o #flow é um estado mental em que uma pessoa está totalmente imersa em uma atividade, perdendo a noção do tempo e do espaço, e experimentando um profundo envolvimento e satisfação. 


Tradicionalmente, o flow tem sido associado a momentos de intensa concentração e foco, como durante a prática de um esporte ou hobby, uma leitura envolvente,  a execução de uma tarefa criativa ou o desafio de resolver um problema complexo (leia meu artigo "Flow é bom negócio", aqui). 

Pode ocorrer até mesmo em atividades repetitivas, como o Professor Csikszentmihalyi (pronuncia-se: tik cent mirrai) detalha em seu livro lançado no Brasil no final de 2020 (veja aqui).


No entanto, a hipótese ousada que propomos vai além dessa concepção convencional de flow. Em vez de considerar o estado de fluidez como um estado transitório e ocasional, vislumbres possibilitados por algumas práticas de ativação, sugerimos que ele seja a condição fundamental da existência humana. 


Desde o momento em que nascemos até nossa última expiração, estamos imersos em um fluxo constante de experiências, pensamentos e sensações. Cada momento da nossa vida é uma dança contínua entre o eu individual (o 'eu' falso) e o universo infinito - veja a série Flow & Não Dualidade em vídeo e artigos, aqui e aqui).





A Ilusão da Separação: Limitações da Mente e do Corpo

O que nos impede de perceber essa conexão intrínseca com o flow universal? Argumentamos que é a ilusão da separação - a crença profundamente enraizada de que somos seres isolados, distintos do mundo ao nosso redor. Essa ilusão se manifesta de várias formas, desde a identificação excessiva com o ego até a percepção limitada do tempo e do espaço.


Nossa mente e corpo, embora sejam veículos essenciais para a nossa experiência neste plano terreno, também podem ser fontes de limitação. A mente, com seus padrões de pensamento repetitivos e autolimitantes, muitas vezes nos mantém aprisionados em uma gaiola de preocupações, ansiedades e sofrimento. O corpo, sujeito às adversidades da doença, da dor e da decadência e finitude, pode nos iludir, nos fazendo acreditar que somos frágeis e transitórios.


No entanto, sugerimos que essas limitações são apenas superficiais. Abaixo da superfície, somos seres de energia, interconectados em um vasto tecido cósmico, através de uma única consciência, que dá vida ao aparato corpo e mente que usamos para poder viver essa experiência em que nos envolvemos desde que nascemos.



A Natureza Intermitente dos Pensamentos: O Véu da Inquietação

Se estamos constantemente imersos em um estado de flow, por que então muitas vezes nos sentimos desconectados e distraídos? 


Argumentamos que a intermitência dos pensamentos é um dos principais obstáculos para percebermos nossa conexão inerente com o todo. Nossas mentes estão frequentemente agitadas, saltando de um pensamento para outro, como macacos inquietos pulando de galho em galho. Como alguém já disse, não podemos interromper o fluxo das ondas, mas podemos aprender a surfar, ou seja, podemos criar espaços entre um pensamento e outro, ao observa-los. É este espaço que estamos buscando quando falamos sobre aquilo que resta, que permanece, que percebe quando a mente para de trabalhar, pensar, antecipar, resolver, etc. 


Este é aquele, ou aquilo, que percebe, que está ciente.


Essa inquietação mental cria um véu que obscurece nossa percepção da realidade de nossa natureza. Em vez de experimentar o momento presente em sua plenitude, ficamos presos em um labirinto de preocupações passadas e futuras, num deslocamento temporal que nos rouba atenção numa média de 47 a 60% de nosso tempo - todos os dias (veja mais sobre essa pesquisa aqui). 

Em vez de nos sentirmos parte integrante do universo, nos sentimos isolados e alienados e ruminando o passado ou sofrendo por um futuro que ainda não chegou - e certamente será diferente do que imaginamos...


No entanto, a ideia de que podemos transcender essa inquietação através da prática da auto investigação e da contemplação profunda é instigante.  Ao cultivarmos a capacidade de aquietar a mente e sintonizar nossa consciência com o fluxo constante da vida, podemos começar a vislumbrar a verdadeira natureza da nossa existência, a nos interessamos por quem está ciente de nossa experiência, quem ou o que observa desde sempre, aquilo que nosso "aparato" corpo/mente está fazendo, pensando, sentindo.


A Conexão com o Todo: Além dos Limites da Mente e do Corpo

Uma vez que reconhecemos a ilusão da separação e superamos a inquietação dos pensamentos, podemos começar a experimentar a profunda conexão que compartilhamos com o todo. Não somos apenas indivíduos isolados vagando neste mundo; somos expressões únicas de uma consciência cósmica e desperta em constante evolução, manifestações dessa consciência, como ondas que nascem, quebram na praia e voltam para o oceano, ou um firmamento perene que observa a passagem de nuvens (pensamentos, emoções, experiências).


Essa conexão se manifesta de muitas maneiras, desde a sensação de unidade com a natureza até a empatia compassiva pelos outros seres sencientes e por aqueles que ainda estão buscando esse observador externo e interno, mas ainda vivendo no piloto automático. 


Implicações para a Vida Cotidiana: Viver em Harmonia com o Flow Universal

Se aceitarmos a hipótese de que estamos constantemente imersos em um estado de flow contínuo, infinito, isso tem profundas implicações para a forma como vivemos nossas vidas. Em vez de lutar contra a correnteza da existência, podemos aprender a fluir com ela, abraçando a impermanência e a mudança como aspectos inevitáveis da vida.


Isso significa abandonar a necessidade de controle e segurança, e abraçar a incerteza e a aventura que a vida tem a oferecer. Significa viver com um coração aberto e uma mente receptiva, pronta para receber as bênçãos e os desafios que cada momento nos traz. Fazer aquilo que se sabe e que se propõe a fazer, porém sem forçar que um resultado desejado surja. 

Deixar que o que tiver que ocorrer seja aquilo que era o necessário. 


Este é um dos conceitos mais interessantes do Tao chinês, o Wu Wei (veja mais aqui e aqui).


Além disso, esta atitude significa cultivar uma profunda gratidão pela maravilha da existência e uma profunda reverência pela interconexão de todas as coisas. Cada encontro, cada experiência, cada respiração é uma oportunidade de mergulhar mais fundo no mistério da vida.


Em nossa jornada, no dia a dia corrido, é fácil esquecermos nossa verdadeira natureza e nos perdermos nos labirintos da mente e do ego e de que existe um ‘eu’ separado de todo o resto. No entanto, ao abraçarmos a hipótese ousada de que estamos constantemente imersos em um estado de flow infinito, podemos começar a despertar para a realidade mais ampla da nossa existência.


O que ou quem está ciente da sua vida? Ciente das experiências, pensamentos e emoções?

A resposta dessa pergunta é o objetivo de grande parte do meu trabalho.




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"Psiconauta" é uma palavra baseada em raízes gregas que se traduzem em “explorador da mente”. É uma mistura de "psico'', um prefixo usado para descrever processos mentais ou práticas como psicologia e termos como argonauta e astronauta, cujas “viagens e explorações dos mares e do espaço” evocam uma transcendência elevada ou espiritual. A ideia é mensalmente provocar, refletir e agir sobre temas da mente e espírito.

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