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Flow coletivo - O despertar de uma nova forma de encarar o trabalho e a vida.


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A primeira evidência neurocientífica do flow coletivo como um estado cerebral específico.


Em Outubro de 2021, uma notícia espetacular que seguramente vai impactar culturas organizacionais mundo afora. O Flow, considerado o Graal a ser conquistado por líderes e equipes conscientes, tem uma assinatura única, que foi identificada no começo de 2021.

Uma equipe de pesquisa liderada pelo professor associado, Mohammad Shehata da Toyohashi University of Technology, em cooperação com pesquisadores do California Institute of Technology e da Tohoku University, encontrou as ondas cerebrais e regiões sensíveis ao Flow coletivo em comparação com o trabalho em equipe sem engajamento ou o Flow individual . Este estudo, publicado esta semana, é a primeira tentativa do mundo de entender esse estado psicológico objetivamente.


  • O estado de Flow pode ser experimentado durante uma atividade individual ou durante atividades em grupo.

  • Quando os membros da equipe sentem que estão em um estado de Flow unificado, suas ondas cerebrais tendem a ser sincronizadas em perfeita harmonia.

  • O Flow coletivo cria um estado hipercognitivo marcado por altos níveis de integração de informações e sincronia neural.


Relações neurais durante o Flow coletivo foram identificadas por imagens cerebrais EEG (Eletroencefalograma) e podem ser usadas como uma ferramenta para prever e melhorar o desempenho da equipe.

As ondas cerebrais beta e gama no córtex temporal médio durante o Flow coletivo.



Resultados das análises de EEG, mostram que o córtex temporal esquerdo é ativado especificamente durante o flow da equipe.

Essa correlação neural não só pode ser usada para compreender e prever a experiência de Flow coletivo, como também, os autores estão trabalhando na utilização dos resultados para monitorar e prever o desempenho das equipes.

Quem acompanha meus artigos aqui, assim como o nosso trabalho no Projeto Flow, sabe que o entendimento inicial deste estado ampliado de consciência e sua definição, são frutos do trabalho do Professor Mihaly Csikszentmihalyi com sua pesquisa iniciada nos anos 70. O Professor é uma verdadeira lenda viva e um de seus legados, voltado à organizações, é a simulação FLIGBY, representada por nós no Brasil. Veja como ele define o Flow coletivo:

“O Flow tende a ocorrer na zona entre o tédio e a ansiedade, quando o nível de habilidade de alguém está "certo" e eles estão totalmente engajados (mas não sobrecarregados) enquanto executam uma tarefa potencialmente desafiadora.


Notavelmente, quando um indivíduo ou grupo de pessoas está experimentando o Flow, muitas vezes é difícil para eles avaliarem há quanto tempo estão engajados em uma tarefa específica. Os pesquisadores sabem há décadas que o tempo voa quando você está em Flow.”

(Csíkszentmihályi, 1975)

O estado de Flow é marcado por um foco maior e mais estável na tarefa em mãos, emoções positivas, movimentos fluidos e uma sensação de estar totalmente engajado ao fazer algo que parece intrinsecamente gratificante e dentro do controle/habilidade de um indivíduo ou equipe.

Durante o Flow solo e o coletivo, as pessoas parecem se perder de uma maneira que pode fazer com que ações complexas pareçam sem esforço e automáticas.

O Flow coletivo é experimentado quando os jogadores da equipe ficam “na zona” ( “in the zone” -termo utilizado em esportes que define um estado de altissima performance) para realizar uma tarefa juntos.

Grandes equipes vivenciam esse fenômeno psicológico, desde esportes a bandas de música e até equipes de trabalho profissional. Quando o time atinge o nível de Flow coletivo, pode-se observar que o grupo atua em harmonia, rompendo seus limites de performance e resultados.

Era essencial reproduzir este estado no laboratório e medi-lo objetivamente para investigar o processamento neural do estado de Flow coletivo e esse tinha sido um enorme obstáculo por décadas.

Este estudo fornecerá uma estrutura baseada em modelos neurais que podem ser utilizados para estratégias mais eficazes de construção de equipes em áreas onde o desempenho humano e o prazer são importantes - negócios, esportes, música, artes cênicas, videogames e entretenimento, entre outros.

Mohammad Shehata e sua equipe descobriram que durante as tarefas que envolvem o trabalho em equipe, as pessoas que coletivamente ativam o canal do Flow e criam fluidez quando trabalham juntas, mostram aumento da atividade das ondas beta e gama em seu córtex temporal médio esquerdo. Curiosamente, esta região do cérebro não foi ativada durante o Flow individual ou quando os pesquisadores observaram não engajamento na dinâmica de trabalho em equipe no ambiente de laboratório.




O córtex temporal médio esquerdo (a região verde) é ativado exclusivamente durante o estado de flow da equipe. Durante esse momento, o córtex temporal médio esquerdo recebe e integra informações de áreas do cérebro relacionadas ao flow individual (região azul) e interação social (região amarela). O córtex temporal médio esquerdo também está envolvido em uma maior sincronia neural inter-cerebral durante o Flow da equipe.

O pesquisador afirma que "as informações integradas entre os cérebros podem prever a interação e complexidade do grupo eficaz e podem servir como uma medida da inteligência coletiva". Com base em ambas as métricas, nossos dados indicam que o Flow coletivo cria um estado hipercognitivo entre os membros da equipe, conforme refletido na integração de informações inter-cerebrais e sincronia neural significativamente maior durante a experiência do Flow."

Com uma notícia desse tamanho acontecendo, fico imaginando o que pode vir por aí e o que foi publicado esta semana dá conta de que em parceria com instituições governamentais e industriais, os pesquisadores planejam utilizar a assinatura neural do Flow coletivo para monitorar e aprimorar o desempenho da equipe e, talvez, construir equipes mais eficazes e engajadas.

Melhorar o desempenho enquanto mantém o prazer tem implicações de muita relevância para uma melhor qualidade de vida, incluindo a redução das taxas de depressão e stress, burnout, ataques de pânico e ansiedade.

O estado de Flow é o verdadeiro antídoto do mundo VUCA e veio para ficar. O que começamos a notar é que mais e mais pessoas e organizações estão percebendo este movimento que começa a crescer, assim como foi com o 'mindfulness' - que aliás, usamos para induzir o Flow.

O que diferencia aquilo que chamo de "cultura de Flow" é o impacto:


  • 500% de aumento no desempenho de executivos -Pesquisa Mckinsey

  • 430% de aumento na resolução de problemas de forma criativa - Universidade de Sydney

  • 490% aceleração de aprendizagem e aquisição de novas habilidades - DARPA e ADB *(Advanced Brain Monitoring).


A construção de espaços seguros e líderes conscientes que forjem relações de confiança com o time (vulnerabilidade e questionamento de decisões são bem vindos), com desafios estimulantes e contínuos, apoiados por uma visão comum a todos, são aspectos fundamentais para o estabelecimento de uma nova forma de se trabalhar, uma verdadeira"Cultura de Flow".

Este estudo pode ajudar a mudar a história do trabalho (onde passamos 70% da nossa vida adulta ou aproximadamente 90.000 horas) e possibilitar o rompimento do pior paradigma com o qual convivemos há muito tempo, desde a revolução industrial:

Lucros, resultados, ser maior, melhor, mais rápido, tem que ser consequências e não objetivos finais, perseguidos a qualquer custo.

Que o Flow esteja com você.


Referências:

Mohammad Shehata, Miao Cheng, Angus Leung, Naotsugu Tsuchiya, Daw-An Wu, Chia-huei Tseng, Shigeki Nakauchi, and Shinsuke Shimojo (2021). E-neuro, Psychology Today.


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