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  • Foto do escritorCadu Lemos

#5/Flutuação, isolamento sensorial e Flow



O tanque de isolamento sensorial, também conhecido como tanque ou cápsula de flutuação e isolamento, possibilita a terapia de estimulação ambiental restrita (REST). A experiência é de estimulação sensorial mínima quando dentro do tanque, permitindo total relaxamento físico e mental e indução a estados meditativos e de flow.


O que é a técnica de estimulação ambiental restrita (REST)

A redução no nível de informação do ambiente (ou seja, estímulos externos) a que um organismo ou indivíduo é exposto: O REST é usado tanto como técnica experimental para estudar os efeitos da estimulação sensorial reduzida quanto como terapia clínica para gerenciamento de estresse, tratamento de estresse relacionado dor, e vários outros propósitos.

O REST utiliza diferentes abordagens, incluindo a flutuação em cápsulas de isolamento sensorial, em que um indivíduo é imerso em um tanque de flutuação e todos os estímulos recebidos são reduzidos; os efeitos de uma breve imersão incluem um estado de relaxamento.

O termo técnica de estimulação ambiental restrita foi cunhado no final da década de 1970 pelo psicólogo canadense Peter Suedfeld e pelo psicólogo norte-americano Roderick A. Borrie como uma alternativa para a privação ou isolamento sensorial, mas estes continuam sendo os termos mais comumente usados em contextos experimentais. Também chamada de terapia de estimulação ambiental restrita.



História

Introdução ao uso de tanques de isolamento sensorial para o bem-estar físico e mental

No final dos anos 70, começo dos anos 80, me lembro de ter assistido a um filme com o ainda jovem e iniciante ator William Hurt, uma ficção científica dirigida por Ken Russel, chamada Altered States, no Brasil, lançado como Viagens Alucinantes.

Neste filme, Hurt vive um cientista que experimenta em si mesmo, as reações causadas pela privação sensorial num tanque fechado, onde ele ficava mergulhado e insensível a todos os estímulos externos.

O filme, claramente uma ficção (faça uma busca no Google e entenda porque), trazia conceitos que já eram estudados desde os anos 50 por John C. Lilly, pesquisador da comunicação e inteligência dos golfinhos e da mesma geração de Timothy Leary e Ram Dass.

Lilly, médico, psicanalista e especialista em neurofisiologia, estava tentando criar um “instrumento de pesquisa” onde ele poderia estudar algumas áreas intrigantes da neuropsicologia.

Não passou pela cabeça dele que as experiências também trariam aprendizados sobre meditação e estados de consciência diversos, paz, prazer e mesmo melhoras físicas musculares.


John Lilly em seu laboratório (anos 50)


O ato de flutuar em uma superfície de água salgada, que tem a temperatura do corpo num ambiente que bloqueia a luz e o som, é algo em princípio, assustador e aparentemente incômodo. Ainda mais no tempo médio de 60 a 90 minutos. E ainda assim, pode trazer experiências transformadoras.

Os tanques de flutuação (hoje mais parecidos com cápsulas espaciais), foram desenvolvidos no começo dos anos 70 como uma continuidade da pesquisa dos efeitos de privação sensorial que foi desenvolvida por John Lilly, vinte anos antes.

A história da Flutuação data dos anos 50 quando os cientistas Jay Shirley e John Lilly trabalhavam no Instituto Nacional de Saúde Mental e ficaram interessados em entender como o cérebro humano responderia ao um ambiente isolado de qualquer estímulo sensorial. Eles descobriram que ao invés de cair num sono pesado ou perder consciência, os participantes (começando com o próprio Lilly) mantiveram total presença e consciência.

No início, os participantes do estudo ficavam imersos verticalmente num tanque de água e com um capacete opaco circundando suas cabeças, conectado a uma série de tubos de respiração.



Como o capacete era algo que restringia muito os sentidos e sensações, precisava ser melhorado. Os participantes, em sua maioria, eram astronautas da NASA treinando para as missões lunares, que ainda estavam por vir.

Aliás, a flutuação faz parte do programa de treinamento de astronautas ainda hoje.

Nos anos 70, Glenn Perry, jovem engenheiro de computação, em colaboração com Lilly, inventou a primeira versão horizontal do tanque onde já não havia necessidade de uso de um capacete.

Nesta versão, os participantes ficavam deitados na horizontal, sustentados pela alta concentração de sal de Epsom, o que os permitia manter confortavelmente o rosto para fora.

Perry viria a ser o primeiro construtor de tanques comerciais, seu modelo foi a base para o nascimento de uma nova indústria.

E tudo começou porque Perry era tímido para falar em público. Ao fazer parte do estudo de John Lilly (e se tornar seu amigo) conseguiu vencer essa barreira e foi um dos mais eloquentes porta vozes da técnica.

Seu tanque, Samadhi, até hoje é fabricado.



Essa mudança foi crítica na popularização da terapia de flutuação, ainda que até hoje, algumas pessoas tenham a impressão de algo claustrofóbico.

A não ser que você seja realmente claustrofóbico, garanto que é apenas uma impressão.

A evolução da prática da flutuação em tanques de isolamento, ou terapia de flutuação, cresceu exponencialmente na última década, com a chegada de tanques mais espaçosos e até mesmo salas de flutuação.

Hoje, nos Estados Unidos por exemplo, já existem mais de 500 centros de flutuação e outras centenas na Europa.

No Brasil, o principal centro, inaugurado em 2018, com 6 salas de flutuação é o Flutuar Float Center.

Com todo o movimento que começou a se criar por conta de suas pesquisas, Lilly concluiu que além dos benefícios iniciais, havia um imenso potencial na capacidade de aumentar o foco, alívio de stress e ansiedade, tratamento muscular ou como apenas uma forma de relaxamento.

Uma de suas conclusões à época (após refinar o design do tanque e incluir o aquecimento da água), foi: “Percebi um estado elaboradamente rico em estados de experiência interior”.

O clássico problema das origens da atividade consciente do cérebro – isto é- o cérebro é auto mantido, independente ou precisa de estímulos externos? – levou Lilly, após passar algumas horas no tanque a concluir qual escola de pensamento estava correta: A teoria de que o cérebro contém elementos de auto-suficiência e não precisa de estímulos externos para permanecer consciente.

Suas conclusões, abriram as portas para uma nova forma de autoconhecimento e desenvolvimento humano.

Diversos estudos foram conduzidos nos anos 70 e 80, com conclusões semelhantes e abrindo frentes para aprofundamento.

Mais recentemente, o Dr. Justin Feinstein do Instituto de Pesquisas do Cérebro e do Oxley College of Health Sciences nos Estados Unidos, apresentou os resultados de sua pesquisa em 2018.



Pincei algumas informações interessantes do estudo conduzido por Feinstein:

“Este estudo conclui que uma sessão de uma hora de flutuação foi capaz de induzir uma forte redução no estado de ansiedade e um aumento positivo no bem estar de um grupo de 50 participantes diagnosticados com ansiedade e depressão em diferentes aspectos como Transtorno de Ansiedade Generalizado, Síndrome do Pânico, Agorafobia, PTSD (Post Traumatic Stress Disorder/Síndrome pós-traumática) e Transtorno de Ansiedade Social".

Com relação ao resultado geral, a redução do estado de ansiedade foi evidente em todos os participantes, independentemente do sexo ou condição médica.

Mais ainda, a redução foi robusta, com impacto em todas as condições e subgrupos das mesmas. Além da dissipação imediata da ansiedade, a experiência da flutuação também induziu a uma significativa redução no stress, tensão muscular, dores, depressão e aumento significativo nos níveis de serenidade, relaxamento, alegria, efeitos positivos no bem estar geral, níveis de energia e uma sensação de frescor, contentamento e paz.

As conclusões do estudo sugerem que a Flutuação é uma técnica promissora na redução dos sintomas de ansiedade e depressão, ainda que a persistência dos efeitos ainda seja desconhecida.

Saúde e bem-estar

Ao longo dos últimos 40 anos, quando a terapia da flutuação ficou mais conhecida fora do Brasil, as pessoas consistentemente tem buscado alívio do stress, redução de dependências químicas, diminuição e até mesmo eliminação de dores crônicas, recuperação física e muscular (vários atletas de alta performance fazem uso, mais detalhes adiante) e mais.

Estudos realizados nos últimos anos, indicam que a flutuação reduz os níveis de cortisol e aumenta os níveis de dopamina e endorfinas, fazendo com que seu estado de espírito esteja em níveis ótimos e com uma duração que pode chegar a até dois dias depois da sessão.

Sem a necessidade de ter que lidar com a gravidade (equilíbrio do corpo), visão, audição e tato, além de outros estímulos externos que consomem muita energia, nosso cérebro relaxa e aciona outros aspectos cognitivos, intuitivos e criativos, dando espaço a sensações que não experimentamos com frequência.

Indução a estados meditativos

Todas as nossas sensações e experiências vividas enquanto flutuamos, vêm de nosso próprio interior.

Uma ótima oportunidade para refletir sobre nossa vida, relatos de insights pessoais e criativos são inúmeros.

O tanque, hoje mais parecido com uma cápsula espacial, também apoia quem está iniciando nos processos de meditação e introspecção.



Após 30 ou 40 minutos de flutuação, já tendo diminuído sua frequência de Beta (condição desperta e consciente, nosso 'default') para Alpha, ondas Theta começam a ser emitidas pelo cérebro e elas são as facilitadoras do nosso relaxamento profundo e da criatividade inconsciente. Apenas com alguns anos de prática diária, uma pessoa consegue acessar um estado meditativo profundo com presença contínua de ondas Theta.

No tanque, isso acontece quase que imediatamente e em muitos casos, já na primeira sessão (caso a intenção seja meditar).

Autoconhecimento e Autodesenvolvimento

O uso da flutuação por atletas de alto rendimento tem sido cada vez mais frequentes e eles usam o tanque em dois momentos:


  • Antes de uma prova, buscando visualizar todo o processo em detalhes e depois para recuperação física e mental.


Times das Ligas Americanas de Basquete e Futebol, como os Golden State Warriors, New England Patriots, montanhistas, pilotos de F1 entre muitos outros, usam o tanque regularmente.

Relatos apontam para pessoas que melhoraram significativamente suas atividades esportivas, profissionais (teorias científicas complexas, capítulos inteiros de livros pensados durante a sessão, solução de problemas complexos, entre outras conquistas).

Como não há nada para distrair sua mente, seu nível de concentração e processamento de informação e de conhecimento é impressionante.


Steph Curry dos Warriors, em comercial de TV que mostrava sua preparação.

Como funciona

500 kilos de sal de Epsom (sulfato de magnésio) que além de ajudar a flutuar qualquer tipo de corpo, também proporciona inúmeros benefícios ao ser absorvido pela pele e garante gravidade próxima do zero, dentro da cápsula.

Sem estímulos externos, não há necessidade do cérebro fazer seus inúmeros cálculos para manter seu corpo equilibrado em pé e nem tentar ficar prevendo situações.

Então, acontece um quase total desligamento do córtex pré frontal (hipofrontalidade transitória), trazendo manifestações de outras áreas do cérebro, proporcionando momentos de insights, intuição e criatividade.

A temperatura da água é a mesma do seu corpo, o que significa que você perde a sensação de estar em contato com ela e parece realmente flutuar em gravidade zero.

A cápsula já possui isolamento acústico e além disso, você vai usar protetores auriculares. O barulho externo, não existe mais.

Ao fechar a tampa e apagar a luz (sim, você pode deixar a luz acesa e aproveitar uma sessão de cromoterapia, mas porque não ir fundo na experiência?) escuridão total.

Fechar ou abrir os olhos não faz diferença e aquelas imagens que você por vezes enxerga quando está sonhando ou meditando, acontecem também com os olhos abertos, o que mostra que tudo é gerado dentro de nossa mente.



Um fenômeno comum à flutuação, 
que também ocorre na prática de meditação, 
é conhecido como hipnagogia.

A palavra hipnagogia vem do grego “hypnos”, que significa sono; e “agogôs”, que significa induzido.

Esse termo está relacionado a uma condição da mente, em que o pensamento se encontra totalmente livre e aberto a ideias inovadoras e criativas.

A hipnagogia foi utilizada por muitos artistas com o objetivo de expandir a criatividade e é conceituada como um estado diferenciado da consciência que se manifesta durante o sono.

Trata-se de um estado de semiconsciência, onde o cérebro é capaz de trabalhar com a criatividade.

A ocorrência da hipnagogia é mais comum em crianças de 3 a 7 anos de idade.

Apenas 10% dos adultos têm a capacidade entrar nesse estado de consciência.

Durante a hipnagogia, a atividade cerebral é reduzida, e aumenta a produção de ondas alfa numa faixa de frequência semelhante a encontrada na prática da meditação.

Na flutuação, este fenômeno ocorre naturalmente e alguns relatos de imagens visualizadas com os olhos fechados ou abertos (na total escuridão), também são comuns.

Esse outro fenômeno é chamado de "fosfeno'. Os olhos e o cérebro trabalham juntos para criar essas formas que ocorrem quando não há estímulo visual externo.

Pessoas que passam longos períodos de tempo em privação sensorial ou meditação frequentemente relatam visões, provavelmente os fosfenos.


Unindo a flutuação e a meditação

A meditação é milenar e mesmo sua variante mais contemporânea, o 'mindfulness', ou atenção plena, são práticas que ao longo do tempo, constroem uma mente mais focada, centrada, equilibrada, aquietada e portanto, com maior desempenho em todos os sentidos.

A questão, é que há a necessidade da prática constante, diária e por períodos longos de tempo para que sedimente os resultados.

Muitas pessoas desistem e desanimam da meditação (ou nem começam) por achar entediante ou mesmo por sentir que não tem perfil para manter uma postura concentrada por um tempo considerável.

Há muita desinformação, porém, posso garantir que a começar com um minuto apenas de concentração na respiração, evoluir para 5 minutos (várias vezes ao dia) pode ser tão bom quanto 30 minutos pela manhã e/ou à noite.

O importante é a prática consistente.

A flutuação, de certa forma, além de induzir mais rapidamente a estados meditativos, tem também a característica de acelerar este processo e com um residual de bem estar que pode chegar a dois dias após a sessão, entretanto, para isso, é preciso se preparar adequadamente para a sessão de flutuação.

A flutuação pode ser uma plataforma importante e eficiente para quem quer começar a meditar e encontra dificuldades no processo.

O Projeto Flow e o Flutuar Float Center, desenvolveram um programa especial para facilitar o acesso a estados ampliados de consciência, através da flutuação, meditação e ativação do estado de flow.

O programa chamado "Deep Now" ou o Profundo Agora, tem como objetivo principal, aproximar técnicas milenares e atuais, tecnologia e humanização, buscando provocar reflexão sobre o novo ambiente em que estamos vivendo e a mudança radical que vêm se processando há alguns anos.

Conheça mais sobre o programa aqui.

No video abaixo, veja como é o programa e alguns depoimentos:



Leia também matéria da revista Planeta aqui.



Cadu Lemos ao lado do tanque de flutuação: técnica tende a se expandir no Brasil.

Até a próxima e que o flow esteja com você!


Sobre a newsletter

"Psiconauta" é uma palavra baseada em raízes gregas que se traduzem em “explorador da mente”. É uma mistura de "psico'', um prefixo usado para descrever processos mentais ou práticas como psicologia e termos como argonauta e astronauta, cujas “viagens e explorações dos mares e do espaço” evocam uma transcendência elevada ou espiritual. A ideia é mensalmente provocar, refletir e agir sobre temas da mente e espírito.

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