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Foto do escritorCadu Lemos

Gestão de “Energia” e o paradigma do "Comando e Controle".




O discurso sobre eficiência e produtividade tem sido dominado por uma obsessão míope com relação à gestão do tempo. Esse foco restrito deixa de lado uma verdade mais profunda: somos seres energéticos que precisam gerir não apenas o tempo (um conceito questionável inventado por nós, veja aqui e aqui), mas principalmente nossas energias física, mental, emocional e espiritual, realidades com as quais lidamos diariamente.

Apesar de serem fundamentais para o funcionamento humano, esses pilares são frequentemente ignorados em ambientes corporativos onde o modelo de "comando e controle" ainda reina supremo.


A Energia Física em Conflito com o Estilo de Trabalho Atual

A energia física (quantidade) é inegavelmente a base da nossa produtividade, mas a realidade das organizações atuais é que as exigências do trabalho muitas vezes nos levam ao esgotamento. O modelo de "comando e controle" favorece longas jornadas de trabalho e prazos apertados em detrimento da saúde e do bem-estar dos colaboradores. 

As políticas de bem-estar são vistas como "extras" ou "benefícios", e não como necessidades fundamentais para a manutenção da energia física.


O Desgaste Mental Sob uma Gestão Obsoleta

A energia mental (foco), essencial para a inovação e solução de problemas, é   subutilizada e mal gerida em muitas organizações. O modelo de gestão predominante sufoca a criatividade ao impor estruturas rígidas e hierarquias que desencorajam o pensamento independente. 

Mesmo quando são oferecidos programas de desenvolvimento mental, estes muitas vezes não passam de tentativas superficiais de ‘cumprir tabela’ na lista de boas práticas, sem um compromisso autêntico com a saúde mental dos colaboradores.


A Energia Emocional (qualidade) e a falácia da inteligência emocional nas empresas

Apesar de a inteligência emocional ser louvada como uma competência chave no mundo corporativo, a realidade é que o modelo de "comando e controle" cria ambientes onde as emoções são suprimidas em favor da conformidade e da obediência. 

O estresse e a ansiedade são frequentemente o preço pago pela aderência a um sistema que valoriza a produtividade acima da pessoa.


A Energia Espiritual Sacrificada no Altar da Eficiência

A energia espiritual (força), que nos conecta com nossos valores mais profundos e com o propósito do nosso trabalho, é a mais negligenciada em um sistema focado em metas e resultados financeiros. 

O modelo vigente trata o sentido de propósito como uma "vantagem competitiva", mas falha em reconhecer genuinamente a importância de conectar os colaboradores com uma missão que vá além do lucro e que de fato, já trazemos todos em nós desde que nascemos (mais sobre isso em outro momento).


A fonte de energia mais fundamental é a física; a mais significativa é a espiritual. Uma quinta energia, ou energia social, é algo a ser considerado como uma síntese dos quatro vetores principais.

O Estado de Flow: Uma Utopia Organizacional?

O estado de flow, que representa a harmonia entre as quatro energias, é virtualmente impossível em um ambiente de "comando e controle", onde o microgerenciamento e a pressão por resultados imediatos anulam qualquer possibilidade de imersão profunda e gratificante no trabalho. A ideia de que podemos atingir esse estado sob tais condições é uma utopia, uma ilusão vendida por gurus de administração que ignoram a realidade tóxica de muitas organizações.


Lucros e Metas: A Obsessão Destrutiva

A gestão das quatro energias e o acesso ao estado de flow,  apesar de serem as verdadeiras chaves para o sucesso e bem-estar, são continuamente ofuscados pela obsessão com lucros e o atingimento de metas. O modelo de "comando e controle" persiste em tratar os resultados financeiros como o único indicador de sucesso, perpetuando um ciclo de estresse e insatisfação.


Por mais que se fale sobre ESG, liderança servidora e modelos alternativos de gestão, o paradigma de "comando e controle" permanece enraizado na maioria das organizações. A menos que haja uma mudança fundamental na mentalidade das lideranças empresariais, que valorize genuinamente a gestão das energias física, mental, emocional e espiritual dos colaboradores, continuaremos a testemunhar uma força de trabalho esgotada e desengajada. 


Sem essa mudança, uma liderança mais consciente com equipes realmente diferenciadas (vide Projeto Aristóteles do Google, aqui),  permanecerá como uma mera retórica, incapaz de desafiar o status quo que prioriza a eficiência imediata em detrimento do bem-estar humano a longo prazo.


Para superar esse paradigma destrutivo, as organizações devem adotar uma abordagem de gestão que reconheça e nutra todas as quatro energias e a visão do estado de flow como base para o trabalho em equipe (que chamo de flow em equipe). . Isso implica uma mudança cultural profunda, onde o sucesso não é medido apenas por números financeiros, mas também por números que reflitam o  bem-estar dos colaboradores e pelo impacto positivo na comunidade e no meio ambiente.


A gestão das energias e a cultura de flow não são apenas uma estratégia de negócios, mas uma estratégia de saída (e sobrevivência) que promove a sustentabilidade e a resiliência em todos os níveis. Somente quando as organizações abraçarem essa abordagem holística poderemos verdadeiramente alcançar um estado de flow coletivo, onde o trabalho se torna uma fonte de realização e crescimento tanto para os indivíduos quanto para a sociedade como um todo. 


Enquanto isso, na firma, continuamos a discutir o Big Brother, a harmonização facial e como fazer para nos tornarmos a "melhor versão de nós mesmos".






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